No dia 26 de setembro de 2025, em uma atividade de internacionalização da disciplina de Projeto Integrador II do Curso de Tecnologia em Gestão Empresarial, a pesquisadora Camila Laclé apresentou a palestra ‘Observar la Publicidad […]
No dia 26 de setembro de 2025, em uma atividade de internacionalização da disciplina de Projeto Integrador II do Curso de Tecnologia em Gestão Empresarial, a pesquisadora Camila Laclé apresentou a palestra ‘Observar la Publicidad con perspectiva de género’, destacando o trabalho do Observatorio de la Imagen de la Mujer en la Publicidade de Costa Rica, projeto ativo de 2016 a 2024.
O objetivo principal desse observatório era promover uma cultura publicitária mais respeitosa com relação aos direitos das mulheres e à igualdade de gênero, utilizando uma metodologia de investigação-ação. Foram desenvolvidos 10 critérios para identificar a publicidade sexista, validados com mulheres de diferentes níveis de escolaridade, valorizando a percepção das mulheres sobre como a publicidade usa a imagem e quais informações denotam violência, sexismo, discriminação e estereótipos nas publicidades.
Ao longo do projeto, detectaram mais de 360 práticas publicitárias indevidas, classificadas como explícitas, ou não, em relação às categorias estereótipos, sexismo, violência, discriminação, objetificação, entre outras. Como resultado foram retirados 70 anúncios do de circulação pela entidade reguladora da publicidade costarriquenha. O Observatório passou, inclusive a repercutir internacionalmente, recebendo queixas de outros países.
A pesquisadora e psicóloga Camila Leclé enfatizou que a publicidade não apenas reflete a cultura, mas também a constrói, funcionando como uma ferramenta de educação e socialização informal e transmissão ideológica, sendo por isso tão fundamental manter atenção, monitoramento e ação sobre aqueles que contratam, produzem e disseminam uma publicidade violenta e estereotipada em relação às mulheres. Foram apresentados diversos exemplos de anúncios sexistas, os quais chamaram a atenção dos discentes da disciplina de Projeto Interdisciplinar II, com grande enfoque sobre a hiperssexualização e objetificação das mulheres até à perpetuação de estereótipos de gênero, como a associação exclusiva da mulher ao espaço doméstico.
Entre os resultados da publicidade que segue tais padrões negativos, destaca-se o impacto negativo destas narrativas, ligando-as a problemas como a insatisfação corporal, a tolerância à violência sexual e a culpabilização das vítimas. Apesar do surgimento do “Femvertising” (publicidade com temática feminista e que adota, supostamente, uma postura mais clara com relação ao empoderamento das mulheres), Camila Laclé alertou para o risco de “purple washing“, quando a abordagem é superficial.
Concluiu defendendo a formação de audiências críticas e a autorregulação do setor como caminhos para uma publicidade mais inclusiva, que, além de ética, também se revela economicamente vantajosa, ponto aprofundado por Camila Laclé. A participação cidadã por meio de denúncias foi marcante na trajetória do Observatório, com resultados atribuídos ao fato de terem construído um site com acesso fácil a várias informações e um formulário de denúncia, bem como foi mencionado que uma segunda alternativa para a coleta de publicidade ocorria quando adotavam como método gravar uma hora do ‘Prime time’ e depois observar todas as publicidades expostas naquele período.
A fala de Camila Laclé permitiu aos discentes da disciplina uma experiência de internacionalização por meio do contato direto com outro idioma, cultura, condições legislativas e disposição pública para agir sobre o problema, algo ainda distante do contexto do brasileiro. Após a exposição de Camila Laclé, os discentes ainda puderam questioná-la sobre diferentes pontos. Alguns deles foram: Se, na Costa Rica, existem regras ou autorregulação para evitar a publicidade sexualizada e se, na prática, as pessoas se importam ou se incomodam com a explicitude deste tipo de publicidade no país, comparando com a realidade do Brasil; também questionaram por que razão muitas campanhas publicitárias não evoluíram e mantêm a sexualização da mulher como estratégia, em vez de explorarem ideias mais criativas que valorizem o produto ou a empresa; quiseram saber se houve uma evolução ou diminuição da publicidade sexista na Costa Rica desde o trabalho de monitorização realizado entre 2016 e 2021; perguntaram se o Observatório identificava rapidamente os anúncios sexistas, se o número de queixas tinha aumentado nos últimos anos e se recebiam muitas denúncias; questionaram quais eram as principais ações do Observatório para prevenir e combater a violência contra as mulheres; e, por fim, perguntaram como o Observatório da Costa Rica conseguiu recolher tantas queixas, considerando que a recente experiência do Observatório OPeNS da Fatec-Garça apresenta dificuldade de mobilizar denúncias junto ao público.